segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Moça do Yakult

 

Fiz uma pesquisa no doutor Google hoje. Escrevi Moça do Yakult. Queria saber se elas ainda existem. Para minha surpresa, vários relatos de internautas testemunham que elas ainda fazem entregas em domicílio. Certamente não mais como antigamente. Entenda-se “antigamente” aqui, a época em que eu era criança e aguardava  ansioso os potinhos cheios de um líquido com lactobacilos vivos. Nunca soube exatamente o que era isso, mas que dava um charme e tanto isso dava. E vendia demais! E era gostoso demais...

Aliás, ainda é. De vez em quando ainda bebo um, com direito a abrir só um pedacinho da tampa. Para degustar devagar. Aos poucos. Um gostinho azedinho que aperta o paladar  no canto de dentro da boca. Único. Cheio de lembranças.

No meu caso as lembranças são de uma época em que as vaquinhas estavam um pouco mais gordas no orçamento de casa. Pelo menos eu imagino que sim. Afinal, não acredito que fosse barato ter o atendimento vip da moça que gritava que o Yakult  chegou. Se não me falha a memória, a chegada dela no portão de casa coincide com o período da compra de nossa primeira TV a  cores. Adquirida para assistir as Olimpíadas de Montreal em 1976.  Se bem que mais do que Jogos, me lembro de ficar escondido no corredor de casa, bisbilhotando os filmes que meu pai assistia. Censurados à época. Vendo alguns deles hoje, me pergunto o que era proibido ali. Perto do que a meninada assiste em 2012, aquelas películas podem ser vistas pelos consumidores de Yakult de todas as idades. Aliás, deu vontade de beber mais um... Será que se  pedir pela internet elas entregam?

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Esparadrapos e mertiolate



Não me  lembro  bem quantas vezes já me machuquei. Não estou falando de sentimentos: paixão, decepções e dores do coração, nada disso. Estou falando de machucado pelo corpo. Cabeça, tronco e membros. Partes quebradas, edemas, torções, cortes e traumas em geral. Sei que comecei cedo. São várias as lembranças de minha mãe, pai, tias ou vizinhos fazendo algum tipo de socorro. 

Uma vez foi um escorregador improvisado numa pilha de tijolos. A rampa não aguentou a farra, quebrou, levou consigo uma parte dos tijolos e outra do meu nariz. Fragmentos do excesso de brincadeira foram encontrados e retirados das narinas durante algum tempo.
Depois, ao sair correndo para a cozinha, rumo a um intervalo mais saboroso, o escorregão levou a uma pancada na quina de um objeto que certamente não precisava estar ali. O corte profundo e os pontos na cabeça foram a porta de abertura para uma série de outras contusões; dentro e fora.

Se engana quem pensa que foi meu eu criança quem mais me levou ao hospital. O adolescente e o adulto também visitaram o pronto-socorro, a enfermaria, a sala de exames, a tomografia, a consulta, diversas vezes.
Uma perna quebrada após ser atropelado por um carro de Fórmula 3, quando cobria uma prova para a TV, uma amnésia após uma queda jogando futebol, seguida de um edema, que só não me tirou a vida porque o médico teve o cuidado de ter uns cuidados a mais. 

Sem contar tornozelo, braço e joelho vítimas do futebol. E ainda os acidentes de carro. Nada muito sério, mas suficientes para entrar na lista. Se somar as vezes em que me afoguei, ou a escapada à la 007 no dia em que uma revolução foi deflagrada no Paraguai e eu estava lá fazendo uma reportagem sobre as compras na fronteira, nada mais. De repente me vi cercado de soldados e um comandante nos ameaçando com prisão caso não atravessássemos a Ponte da Amizade em um minuto. Nem preciso dizer que batemos o recorde da travessia binacional.

Interessante eu me lembrar de tanta coisa e ainda ousar escrever, compartilhar. Acho que estou fazendo isso para documentar algo, agradecer pela vida e ao mesmo tempo desabafar. Afinal, é raro a gente conseguir contar essas coisas para alguém até o fim. Geralmente quem nos escuta tem uma história com mais drama, mais sangue, maior tempo de internação. Uma UTI, uns pinos a mais, ou remédios pela hora da morte podem  arrasar o entusiasmo de qualquer um. E foram poucas as vezes que falei sobre essas dores e dissabores. Quando tentei, meu interlocutor tinha um episódio maior, mais profundo. Por essas e por outras não estou autorizado a me queixar. No máximo a começar a conversa e esperar que alguém me interrompa e diga, como fazia o Braguinha de outra crônica: “isso não é nada!!!”