sexta-feira, 7 de junho de 2013

Um santo remédio

Eu havia acabado de ouvir uma música que fala da amizade sincera, um santo remédio, um porto seguro. Estava no carro, levando minhas duas filhas pra casa, após pegá-las na escola. Nós moramos em Barretos, e em poucos lugares vi tanto cachorro na rua. A cidade é uma delícia de morar. Mas os vira-latas são um peso contra a boa fama da Capital do Rodeio; que abriga o hospital mais humanizado do Brasil. Uma referência internacional no tratamento de câncer. Pois a visão canina do dia acabou virando a alegria da família nos dias seguintes. A história é a seguinte:
Parei no semáforo, para que os pedestres pudessem atravessar, quando vi dois cachorros seguindo o mesmo rumo. Cachorro seguro morreu de velho. E os dois me fizeram lembrar a música da amizade. Fiquei fascinado com a diferença brutal de tamanho entre eles e a sintonia com que caminhavam pela rua e calçadas. Um era muito pequeno. Pretinho. Quase pelado. O outro era grande, tinha coleira, pelagem caramelo e andava colado no baixinho. Como se o protegesse. Achamos a cena engraçada e seguimos pra casa.
Dia seguinte, no mesmo local, lembramos que ali havíamos encontrado a dupla. De repente, aparece o pequeno, sozinho. Na hora lamentos a possível separação dos amigos. Que nada. O pixote atravessou no mesmo ponto, e foi direto na direção de uma longa cerca. O grandão estava na parte de dentro. Assim que se encontraram a caminhada recomeçou. Um na calçada, pra fora, e o outro coladinho na cerca, por perto. Até que acharam um buraco e o maior pulou na calçada. Hora de voltar a andar coladinho. E assim seguiram. Não sei se eles formam um casal com tamanhos absurdamente diferentes, ou se são dois cães que decidiram andar juntos como dois amigos sinceros.Uma prova de que a frase mundo cão é injusta com os animais. Assim como chamar alguém de cachorro. E a visão e as risadas que demos com a imagem da fidelidade entre o pequeno e seu fiel escudeiro, foram marcantes. Pensei muito sobre a amizade.
Deve ser porque nem sempre encontramos o amigo que é amigo para todas as horas. Ou o amigo que decide caminhar junto mesmo quando você não tem nada a dar em troca. Ou talvez porque a gente espera demais de outras gentes, oferecendo muito pouco. Confesso que vivo a sensação de que estou de um dos lados da cerca. A espera do amigo que vai voltar a andar por perto. Nem precisa ser um porto seguro. Basta ser sincero!