Pedia votos como
ninguém. Comia pastel, bebia cachaça, almoçava mais de uma vez, pegava ônibus,
chorava nos velórios. Nas festas abraçava noivos,
aniversariantes, padrinhos e madrinhas, sem precisar de convite. Sua cara-de-pau
era tamanha que ninguém tinha coragem de
desconvidá-lo.
Em reuniões de
condomínio, futebol na várzea, culto, sessão espírita, missa e até despacho na
encruzilhada, onde tinha um eleitor, lá estava ele. Um campeão em segurar
criancinhas, elogiar vovozinhas e contar histórias de como a vida de candidato
pobre é difícil.
Filomeno Gergelim era o
que se pode chamar de político de carreira. Sabia o que queria e era capaz de
saber também pelos outros. Antes mesmo do eleitor pedir algo o homem já
prometia. Tinha olhos de águia e lábia de
sereia. Via de longe o que aquele bairro precisava, o que a associação dos
moradores imaginava e até mesmo o que aquela mãe iria chorar pedindo. Era quase
um mágico. Um ilusionista. Um ser iluminado. Ao menos era isso o que o povão
sentia. Ai de quem duvidasse. Gergelim tinha virado um ídolo. Seu slogan “ao
menos dê uma chance ao Filomeno” era hit na cidade e terror da situação.
Sua vitória foi de
lavada. Um marco eleitoral. As urnas explodiram com Filomeno pra todo lado. Até
no centro, onde o candidato a reeleição acreditava que iria vencer, Gergelim
tirou de letra. Venceu e foi carregado nos braços. O povo tinha nele a volta da
esperança. Agora sim a cidade iria sair do buraco.
Só que a história se
encarrega de desfazer mitos. Ou ao menos apaga bem as imagens feitas com tinta
fraca. O homem ficou lá naquela prefeitura por um bom tempo. Das criancinhas
ele até lembrava. Afinal as quatro filhas insistiam em levar os netinhos para
brincar na sala de reuniões.
Mas a criançada do
povo, os bairros, aquela gente com quem ele tinha a pachorra de até andar junto
no busão para ouvir suas histórias, desses ele simplesmente esqueceu. Ou finge
que não sabe de quem se trata. Ao botar o bumbum na cadeira de comando, sua
memória foi automaticamente desligada. O coração esfriou, as lágrimas secaram,
o discurso murchou. Se não morreu e colocaram um clone ali, pode se dizer que
de fato o homem era mesmo mágico. E sabia desaparecer!