No leito de morte
reuniu os filhos. Os quatro não se viam há um bom tempo. Cada um tinha ganhado
rumo, como dizem. Vivendo numa
confortável distância, sem precisar de um ambiente que tinha deixado de ser
família e se transformado num inferno. A mãe, separada dele desde sempre, não
sabia se ia, se ficava, se sorria. A dor
era maior que a saudade, embora ela
também existisse.
O quarto do Hospital
tinha oxigênio nos tubos mas pouco ar respirável. Não cabia tanta gente
desconectada num lugar só. A conversa em tom de despedida seria difícil. Poderia
tornar-se insuportável se alguém quisesse explicar o inexplicável, ou relembrar
algo que o tempo já tinha se encarregado
de anestesiar.
Com pouca voz e pouca
vida ele falou pouco. Seu pedido de perdão foi nominal, mas sem detalhes. Para cada
filho uma frase ou duas e lágrimas de
sobra. Mais dele do que deles. Era um choro de arrependimento sem censura. Um choro
de despedida de tudo, com doses pesadas de medo.
Ele sabia que era seu
último dia. Não queria deixar o que restava dele sem recuperar um pouco do amor
que existiu em algum lugar lá atrás.
Foi quando a mãe chegou.
Era ainda uma mulher linda. O tempo não conseguiu apagá-la. E sua força
tinha energia suficiente para uma família inteira. Sabe-se lá Deus onde ela achava tanto combustível para
viver. Entrar naquele lugar, juntar mãos, beijos e abraços, chamar para a vida
gente que nem se falava mais, suplicar que ninguém saísse dali sem perdoar e se
permitir recomeçar. Parecia algo sobrenatural… E ela era mesmo uma mulher
de outro planeta.
Quando ele fechou os
olhos para descansar de vez, de fato serenou. Antes do fôlego final viu um
pouco do céu aqui na terra, através daquela que um dia ele chamou de meu anjo.