Nasci no interior de
São Paulo, morei no Paraná, de lá fui
para Rondônia de onde me mudei há pouco mais de um ano para voltar a ser
paulista. Das saudades que deixei, a maior delas sempre volta ao que escrevo: o
amor por meu falecido pai, a quem me refiro sempre como o homem da minha vida.
Tudo o que me lembra seu Benedicto mexe com algo dentro de mim
que não tem botão de desliga.
O que eu não esperava era que um mês de molho em casa, por conta de uma
cirurgia, com os cuidados mais que especiais que recebi da esposa e duas filhas,
pudesse despertar esse algo dentro de mim de forma tão viva.
É muito duro e
complicado você não poder se movimentar muito. Depender dos outros para quase
tudo e ter que pedir, incomodar, dar trabalho e preocupação. O afastamento é
muito maior do que um período de licença médica para reabilitação.
Também por isso, de
volta ao trabalho hoje, parei pra pensar no quanto minhas três mulheres se
dedicaram nos dias de repouso forçado; e ainda se dedicam: ajudando
na minha reentrada ao mundo do
trabalho e do convívio fora do quarto e sala.
Ao pensar nas filhotas
pensei em mim como filho. Enviei uma carta de cobrança ao passado. Nela eu
pergunto se fui, em algum momento, tão bom com meu pai quanto elas estão sendo
comigo. Se amei de forma tão intensa como sou amado. Se ofereci tantos sorrisos
e frases… e café pronto, com uma boa fatia de bolo de fubá com margarina.
No meu aniversário, dia
desses, vi que estou chegando perto da idade que ele tinha quando morreu. Jovem
demais para ir tão longe sozinho. Não como medo de que aconteça o mesmo comigo,
nada disso. Pensei nisso porque ainda estava lá no passado, cobrando o filho
que um dia eu não sei se fui.
Não consegui desligar
ainda. Também não é pra menos. Comecei agora a pensar em quem fez o bolo. E no
marido que devo ser.