quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Restablishment



Juntei palavras em inglês para começar essa conversa. Restart, com seu sentido claro de reinício e recomeço, juntinho com uma mais complicada: establishment, que tem pompa e circunstância para e resumir numa palavra o significado de autoridade institucional e sistema ideológico, político, legal que constituem uma sociedade.
Só não quero usar o reinicio e o estabelecimento do novo para me referir ao cenário político e suas previsões ou expectativas. Disso muita gente já tem se encarregado. O desafio é minha própria alma. Conseguir apertar o botão de reinício e estabelecer meu próprio sistema de bom funcionamento, fazendo valer sem chavões que é verdade a história de tudo ficar melhor se a gente estiver melhor...
Depois de quatro anos bem sucedidos numa função estratégica: cuidar da comunicação de um Governo de Estado, contemplo a reta final dessa jornada com os olhos de quem vê.
Colegas e amigos de trabalho, com aptidões únicas e extraordinárias, permitiram-me provar ser possível fazer comunicação institucional sem os desagradáveis 50 tons da chapa-branca. Tanto é verdade que nas páginas do Governo de Rondônia nesses anos foi possível encontrar matérias que dignificam a pessoa humana, apresentam resultados, entregas genuínas, testemunhos verdadeiros de contribuintes satisfeitos com o Estado.
Ao invés de publicarmos promessas, promoção de agentes públicos, números inventados, projetos mirabolantes lindos no papel e apagados da memória, decidimos contar histórias com significado.
Na relação com as mídias e a publicidade, os pareceres dos órgãos fiscalizadores internos e externos comprovam o quanto valeu a pena seguir estritamente o que diz a Lei. Respeitando os critérios básicos de audiência e acessos, conforme pesquisas sérias, o Governo tecnicamente comprou os espaços dentro da necessidade de cada campanha, apresentando ora uma prestação de contas, ora uma ação de utilidade pública, nunca se permitindo profanar o ambiente reservado pra verdade com promessas levianas ou mentiras, que acabam quando o equipamento é desligado ou a pagina fechada.
Mantivemos acesa a chama da Comunicação de Relacionamento, utilizamos avançadas técnicas de gestão de crise, priorizamos a qualidade na assessoria de imprensa, nas apresentações, nos cerimoniais, na elaboração de eventos, na condução de debates, enfim, nos aspectos mais delicados e fundamentais do setor.
Claro que muita coisa ainda pode ser feita e aprimorada. O que estabelecemos foram os marcos. Como o do uso do brasão do Estado em lugar de slogan e logomarcas pessoais. Ou ainda os critérios e normativas para a não compra de mídia que degrade a condição humana.
Foram muitas ações contundentes e disruptivas. Que colocaram sim a Comunicação do Governo de Rondônia como um case de referência nacional. Inclusive quando ousamos romper as fronteiras para levar a imagem de nossa gente a outros rincões.
O trabalho está aí. Registrado e eternizado.
A memória, por mais que falhe com o passar dos anos, permanecerá incólume pela clareza da consciência limpa e alma lavada.
Especialmente pela gratidão a todos os que tornaram possível que essa transformação acontecesse. E também aos que de algum modo lutaram contra, ou ainda torcem o nariz. Pois isso também é um modo de mostrar o quanto a mudança pega a gente de surpresa.
Agora, que fazer algo com qualidade e integridade já não é mais surpresa para ninguém, dei meu restart próprio. Pedindo a Deus que esse legado não se perca. E essa fé existe graças à certeza de que o establishment é do bem. E o bem prevalece!

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

O fantástico mundo acima do subsolo




Estou num elevador, a porta se abre, alguém que nunca vi em toda a minha vida diz um amistoso bom dia! Quer dizer, nem sempre é amistoso e nem sempre é bom dia; às vezes um  boa tarde magro ou um boa noite com vontade de amanhã também aparecem. Mas a questão não é essa: a curiosidade é saber qual a explicação para que a mesma pessoa que passa por você na calçada ou nos corredores da empresa, não te enxerga ali e no elevador se transforma num educado ser humano capaz de cumprimentar. Dependendo do tempo de voo até um como vai, ou como estão as coisas, pode pintar na conversa que sobe-e-desce.

Não estou dizendo que não gosto, nem que não o faça. Também sou adepto do bom dia entre 8 pessoas apertadas. Só que também reflito sobre uma causa maior: a das calçadas, das ruas, dos corredores, dos locais onde  gente se cruza e o outro também existe.  Estamos num mundo onde somos capazes de sorrir e dizer que precisamos tomar um café hora dessas olhando pra telinha do celular, sem notar que aquela pessoa pode estar passando ao lado.

Definitivamente o elevador e sua capacidade de unir as pessoas tem  me despertado essas interrogações. Inclusive para questionar como anda meu estoque de bons dias. Será que estou usando bem meus cumprimentos em todo lugar, ou virei também um elevadoriano, e só dou oi entre quatro paredes de metal?

Educação e gentileza estão com o estoque baixo. Infelizmente parece que somente quando forçados é que temos emprestado um tostão da nossa voz. Tendo um smartphone por perto, tudo fica mais fácil, bastando sacar rapidamente a arma e iniciar uma prosa no mundo paralelo. Inclusive segundos após o bom dia no elevador, quando o veículo insiste em parar em todos os andares e começa a causar aquele incômodo de não termos para onde olhar ou o que fazer.

De repente. ufa, chegou o andar tão esperado... só nos resta um grunhido parecido com um até logo, ou passar bem. Dizer tenha um excelente dia com um sorriso é algo demorado e dolorido demais. A porta pode fechar a nossa cara.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Dose pra elefante






Tenho encontrado mais alento, verdade, beleza e até humanidade nos programas que vejo no Animal Planet, do que  na maior parte do que a TV exibe hoje. Os programas jornalísticos, que eram os preferidos, tem se transformado num carrossel de ilusões. Entretenimento barato, fofoca, denúncias vazias, escorregadas editoriais em busca de favor futuro, são alguns dos ingredientes a embrulhar o estômago.

A resenha esportiva, que também já foi deliciosamente técnica e profissional, está abarrotada de comentaristas de boteco e torcedores com direito a microfone de lapela. Um lugar-comum aqui, um chavão ali e pouco ou quase nada de bom,  me obrigam cada vez mais a não deixar o controle remoto longe dos dedos.

Sem contar que em meio a uma programação empobrecida, estamos vendo e ouvindo um festival de promessas, troca de farpas, acusações e messianismos num horário que deveria servir para a propaganda eleitoral. Além de não estar servindo para ajudar o eleitor a buscar seu melhor caminho, esse espaço tem colaborado para acirrar ainda mais o ódio, a incompreensão e a violência.

Entendo e reconheço que devo respeitar aqueles que se identificam com o modo como tem sido conduzida essa curta e pobre (sob o ponto de vista cultural) campanha eleitoral. Uma arena foi montada e milhões tem prazer em estar nela. Outros tantos se deliciam com o pão e circo na arquibancada.

Mas é pra aceitar assim,  afundado na poltrona sem perguntar se é isso mesmo que queremos?

Não podemos perguntar a nós mesmos se o que a mídia escolheu pautar e o que candidatos decidiram dizer tem a ver com o que precisamos de fato?


Enquanto a resposta não vem, apelo novamente para o mundo animal. Belas paisagens e narrativas com fatos da natureza, compravam que o planeta ainda é o mesmo lugar de sempre. E aqui, no pedaço de Terra que chamamos de Brasil, os vulcões que nunca existiram entraram em erupção e os terremotos outrora distantes já fazem tremer nossos pés. Pior que isso: páginas da história que pareciam apagadas, insistem em ser reescritas e pregadas como salvadoras.

quarta-feira, 11 de julho de 2018

A Tailândia é logo ali




Richard Harris é um cidadão australiano, amado pela família, respeitado pelos vizinhos em Adelaide e passava férias na Tailândia quando soube dos meninos presos na caverna. Prontamente interrompeu o descanso para se transformar em figura fundamental no processo de resgate. Harris é especialista em mergulhos dentro de cavernas e é médico do serviço de ambulâncias de resgate na Austrália. Além de ser conhecido por lidar muito bem com jovens e crianças. Ou seja, a velha máxima de estar no lugar certo na hora certa serve bem para resumir essa história marcada por heroísmo, técnica, aventura e amor ao próximo.

Foi incrível saber detalhes da vida do médico que ficou três dias na caverna e orientou boa parte do processo de salvamento. E chocante descobrir que seu pai morreu exatamente nesses dias, em que ele ajudava a salvar os meninos e seu treinador. Harris soube da morte do pai logo após sair com a última vítima.

Me perdi  em muitas reflexões sobre esse episódio. Pensei na interrupção das férias dele, em como a família conviveu com isso, mesmo sabendo de sua experiência em contraste com riscos enormes. E em meio à comoção mundial viviam a dor particular da perda de alguém precioso e próximo.

O país de origem do doutor Harris quer dar a ele o título de cidadão australiano do ano. Não sei se o médico está interessado nesse tipo de glória, ou se aproveitará isso para fortalecer ainda mais o comprometimento solidário e a doação de talento por uma causa maior; possivelmente sim. Também não sei se o fato ocorrido na Tailândia vai virar série na Netflix ou um candidato ao Oscar.  

Mas uma coisa é certa: um filme passa por nossa mente à medida que sabemos mais sobre esse cidadão e o que ocorreu na Tailândia. São aquelas passagens que mexem com algo dentro da gente que dorme a maior parte do tempo. E de repente desperta porque precisamos disso para dar sentido ao todo. Temos, temos sim, uma capacidade, um dom, um talento, que pode ser útil para o mundo. Mesmo que, aparentemente, não seja o nosso mundo, nossa cultura, nosso quintal.


Obrigado Richard, por não ter medo do escuro.

domingo, 3 de junho de 2018


Errado, eu?

Há um episódio marcante na vida do escritor britânico G.K. Chesterton, quando foi procurado pelo jornal The Times para escrever um ensaio sobre “O que há de errado com o mundo”. O autor respondeu assim:

Prezados Senhores,
Eu.
Sinceramente
G.K. Chesterton

Talvez ao responder com uma única palavra ele tenha conseguido escrever um dos mais brilhantes e enfáticos textos que aquele ou qualquer outro informativo já recebeu. Que incrível resposta! Chesterton diz que o há de errado com o planeta é ele mesmo.

Seu Eu puro e simples desmascara egos. Aparentemente ele perde uma oportunidade de discorrer sobre tantas de suas teses e quem sabe até provocar e apimentar ainda mais sua divergência intelectual com Bernard Shaw. Mas não,  esse  outro escritor genial não só baixou o tom contra Chesterton como passou a tratá-lo como um “inimigo amigável”, tamanho o respeito que crescia dentro das discordâncias.

Hoje, considerando que eu, tú, ele, nós vós e eles somos o que há de errado com o mundo, não faz sentido algum esse cenário de acusações levianas, julgamentos precipitados, destruição de reputações, sarcasmo, ódio e vingança que temos visto diariamente.

Ao nos tornamos nossos próprios autores e descobrirmos o poder de fazer comunicação, estamos destruindo  um dos seus maiores pilares, o da responsabilidade. Em meio ao anonimato, atiram-se pedras verbais e literais. A turba ensandecida quer sangue. Mesmo que seja de inocentes.

O whatsapp, com tantas ferramentas incríveis e uma capacidade inigualável de facilitar a vida de tanta gente, também surge como uma besta-sem-freios. Seu ambiente obscuro propaga dia após dia sabe-se lá Deus que mensagens. O pior, é que em sua maioria elas apontam o erro do outro, sem o compromisso de checar a verdade ou a ponderação de quem olha no espelho e também vê as marcas enrugadas dos próprios pecados.

Se fosse para relembrar a arte de Dale Carnegie em seu encantador processo de relacionar e fazer amigos, citaríamos o trio esquecido: Não criticar, não condenar, não se queixar. Como imaginar a vida nos tempos atuais sem isso? Se é desses elementos que o monstro que habita nos teclados tem vivido?

Ainda isso ouso imaginar. Até dar uma sonhada e nesse embalo acreditar que poderemos amanhecer melhor amanhã. Um Eu melhor! Tú, ele, nós todos. Melhores não no sentido puritano ou piegas da palavra. Nem com a ingenuidade de quem fecha os olhos para a injustiça e corrupção. Não é isso! Falo de ser melhor para um mundo melhor. Aquele que reaprende a se comunicar elevando o próximo.

Um mundo que devolve o poder ao que é bom e correto. onde consigamos voltar a pegar as pedras para construir e não para matar.







quinta-feira, 5 de abril de 2018

Postura olímpica



Estávamos numa sessão do Amana Coaching Insights quando Oscar Motomura fez algo que sabe construir com maestria: provocou a audiência com suas perguntas e equações aparentemente impossíveis. Na minha participação queria saber a opinião dele sobre como empresas e governos devem fazer para lidar com a síndrome da grama do vizinho, que por estar mais verde (nem sempre é verdade) acaba inevitavelmente trazendo comparações?

Em sua resposta ele me ajudou a ganhar mais algumas milhas de conhecimento. Disse que mais importante do que comparar nosso trabalho com essa ou aquela performance devemos optar por uma Postura Olímpica. Ou seja, trabalhar, suar, treinar, aprender, competir buscando superar as próprias marcas. Não necessariamente a competição direta com a marca rival, a cidade do outro, o Estado vizinho. São nossos próprios desafios que devem ser transpostos. O pódio terá muito mais sabor se tivermos a convicção de que chegamos ali batendo nossos próprios recordes, suplantando nossos limites.

No dia seguinte, após essa aula on-line, já comecei a compartilhar com amigos esse conteúdo tão precioso. Que tem uma profundidade incrível e ao mesmo tempo uma simplicidade atlética. Ora, é de superação que estamos falando. Não necessariamente aquela que precisa de um guia incentivando ou um líder ameaçando a punição infernal. A postura acima é a de alguém disposto a encarar diariamente suas fraquezas. Uma pessoa capaz de fazer um raio-x de seu próprio sistema operacional. Ver o que está funcionando e o que tem dado defeito e derrubado as marcas. Qual o motivo do cansaço, por onde anda aquele ânimo que um dia existiu.

Adotar uma postura olímpica pode servir para a empresa. Seus agentes desnudando sua própria caminhada até ali onde chegaram. Foi rápido o crescimento, ou existe um processo de fadiga muscular? Um dia os números já foram melhores? E o clima no ambiente profissional, já esteve mais com cara de linha de chegada ou dá pinta de abandono das pistas?

Creio que tal provocação sirva para o setor público também. Dá uma certa dor saber que cidades dão certo e cidades fracassam. Países tornam-se referência de cultura, respeito à dignidade humana e desenvolvimento social e países caem no meio da maratona e mal conseguem prosseguir com passos vacilantes.

Gente também! Eu, você, nossos colegas de trabalho ou membros da família. Talvez nosso contexto esteja carecendo de um olhar mais apurado para o que diz o relatório pessoal de resultados diários. E seja essa a hora de começar um novo preparo, para vencermos a nós mesmos.

quarta-feira, 28 de março de 2018

Amigo é planta pra se cuidar




Jamais pensei que depois dos 50 fosse começar a fazer coisas que nunca me imaginei fazendo. Correr, por exemplo: eis uma atividade que me dava calafrios no passado e hoje aquece meus dias. Comecei em ritmo lento e à medida que a quilometragem aumenta o prazer transpira junto. Mas foi outra nova prática que me inspirou a falar sobre amizade.  A vida toda com uma certa  gastura de mexer com terra não me impediu de iniciar o plantio de pimenta. Sim, isso mesmo, as pimentinhas nos vasos entraram em minha rotina. Enquanto cuidava delas me peguei pensando na necessidade que temos de cultivar bem os relacionamentos. Mais especificamente, os amigos.

Claro que a vida muda e nos leva a mudar de lugares, cidades e, naturalmente, de amizades. Muitas delas ficaram lá naquele passado onde eu não corria nem cuidava de plantas, outras permanecem vivas, apesar da distância.  E há aquelas novas que brotam, florescem, nos influenciam, cativam e dão frutos. Nem todos saborosos e maduros, mas isso também passa pelo modo como cuidamos do outro.

Levados cada vez mais a um mundo egocêntrico e frágil, temos aprendido a viver, comer, dormir, passar o tempo sem muito esforço. O suor do rosto que pouco serve para grande parte das atividades atualmente,  fica longe de ser um ingrediente saudável para a manutenção de relacionamentos. Uma pena! O não-esforço pelo amigo pode representar um nenhum-esforço dele num dia de solidão e medo da gente. Tudo é cultivo. Até as Escrituras tratam da semeadura e como podemos colher bem se o plantio e o cuidado forem efetivos, verdadeiros, puros e permanentes.

Planta que brota só na superfície não aguenta vento, sol e tempestade

E como saber se estou cultivando bem essa amizade?

Primeiro é preciso definir bem o conceito. Não são os 152 conhecidos do face ou metade disso do insta que você pode chamar de amigos. O poeta já dizia que amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves. Referindo-se a uma antiga expressão da língua portuguesa que se referia ao hábito da monarquia de guardar os objetos mais valiosos a quatro chaves, na verdade, na mão de quatro funcionários diferentes. O numero sete foi incorporado à expressão por conta de sua conotação cabalística. Aquela coisa de ser o numero da perfeição. “Por favor guarde isso a sete chaves”, diziam os antigos patrícios, incorporando isso aos segredos que compartilhavam com os amigos de verdade.

Ora, se amigos são tão valiosos, quer dizer que são caros. Merecem um olhar atento. Um cuidado constante. Não necessariamente diário. Lembre-se das plantas. Nem todas precisam ser regadas todo dia. Aliás, veja lá se não está aguando demais. Muita conversa em cima do jardim pode murchar até o cacto mais resistente. É preciso conhecer com quem estamos lidando. Qual a medida da atenção. Aprender a ouvir, a sentir, a compreender o tipo da terra, o tempo do crescimento, a necessidade de luz e de sombra. Como a plantinha da amizade está se desenvolvendo.

Vai que você esqueceu que ela existe, ou existiu um dia.

Não, não é o whatsapp que vai resolver isso. Ele pode até encaminhar o reencontro. Mas não da pra ele substituir o abraço, a voz presente, o silêncio de uma comunicação não-verbal de quem se conhece de verdade. Jamais o belo aparelho que você carrega no bolso terá as folhas bem verdes e o fruto saboroso.

Pense bem! Reflita! Como anda o seu jardim de amigos? Vai me dizer que essas plantas todas são de plástico?

terça-feira, 13 de março de 2018

Cansaço daqueles


  
   
Sim, o desânimo acaba chegando um dia. Não há quem não tenha sido visitado por ele. De várias formas, brutalmente ou em conta-gotas, o abatimento mental começa lá pelo alto da montanha que construímos e como uma avalanche desliza destrutivo ladeira abaixo.

Alguns sobrevivem bem, reconstroem sonhos, recomeçam a subida e curam as feridas de forma quase milagrosa. Outros sucumbem, não conseguem mais, simplesmente. E há ainda aqueles cujo deslizamento não foi tão aparente. Nem teve forma de avalanche. O desmoronamento emocional aconteceu tão lentamente que na aparência tudo vai bem. Talvez esses sejam os que mais sofram. Afinal, não saber que o próprio mundo cai é não saber da própria vida.

O que nos leva a um tipo de abatimento com poucos sintomas? Como perceber que o cansaço chegou, mesmo dentro de uma rotina tipo no-break?

Claro que há especialistas em várias áreas de competência emocional, capazes de discorrer sobre fadiga mental e espiritual com eloquência e sabedoria. Muitos deles encontram soluções e cura, com ou sem ajuda química. Mas e se o cansaço for tão grande que até mesmo dos mestres no assunto já estejamos enjoados?

Não censuraria ninguém refratário a alguns gurus. Vivemos um período de proliferação em massa de gênios curadores, coachings sorridentes, líderes salvadores e até mesmo máquinas programadas para dar mais do que receber...

Cansamos muito de tudo isso também!

Pode ser que a opção ideal então seja uma profunda reflexão sobre a simplicidade. Interrogando-nos sobre valores que perdemos e aquela pureza que caiu do varal e foi pisoteada.
Li hoje que o Balão Mágico vai reunir o grupo 35 anos depois. Acho que vou pegar carona nessa calda de cometa e me reencontrar com a criança que amava a vida e acreditava no futuro. Mesmo que isso me obrigue a encontrar outra montanha.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018


O pai do Bonner

Qualquer pessoa com o mínimo de integridade e formação ética repudia o que um usuário da internet postou insistentemente contra a família do jornalista William Bonner. A ponto do famoso homem do Jornal Nacional tornar público o seu desabafo e total descontentamento. Não é pra menos. Bonner colocou em horário nobre um assunto que precisa mesmo de ibope. Por conta do debate e sua necessidade de ser aprofundado, e também  porque é hora de que algo mais efetivo seja feito. Censura não, postura sim.

Ataques  enfurecidos e a escancarada queda de valores que experimentamos no país, tem feito de determinadas redes sociais um verdadeiro vale de sangue. Ali, no sopé da montanha cada dia mais vazia de gente que pensa, descem  milhões para ofender, mentir, criar dor e caos, em nome de ideais que a maioria nem sabe do que se trata ou se é naquilo que acredita mesmo. Entram nessa onda sem saber surfar e possivelmente sem saber nadar também.

Afinal, em que nível está nossa mente e até que ponto a multidão raivosa tem nos influenciado? Como está nosso perfil? Talvez, se olharmos nesse espelho, ali encontraremos  manchas, cravos, espinhas, pelos encravados e rugas de tristeza que temos ou causamos...

Lamentável, afinal esse é um ambiente que tem tudo para promover o bem e em muitos casos tem se tornado uma ferramenta extraordinária de mudança social, solidariedade e justiça. E pode melhorar! Quando nos tornarmos mais autorais, mais humanos e capazes de evoluir em busca do melhor para todos, a partir da nossa própria transformação.  

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Fraturamento

A palavra que dá nome a esse texto parece ter sido escrita de forma errada, mas ela nasceu assim mesmo. Trata-se de um sinônimo de quebra, fratura, rompimento, ou o mais atual de todos: disrupção.

Empresas, clubes, governos, escolas, conglomerados inteiros tem se deparado com a necessidade de romper, quebrar paradigmas, provocar uma disrupção eficaz e plena.
E essa eficácia passa pelo caminho da decisão individual. Se não partir de quem vive o ambiente, o processo não vai passar do território das palestras, cartazes, mensagens e boa vontade de alguns.

Talvez  o elenco de temas a serem escolhidos para romper com os maus hábitos, impedir o fracasso do projeto no qual estamos, ou fraturar o que está torto para recolocar no lugar seja gigantesco. Infelizmente o acúmulo de manias e excesso de jeitinho tem contaminado estruturas inteiras, a ponto de parecer que não há uma saída.

Essa disrupção, portanto, é eminentemente individual.

São aqueles costumes que desenvolvemos e acabaram virando “de estimação”. Comportamentos que carregamos e  não percebemos, por causa da rotina e falta de auto-sincera-avaliação. Que  implicam diretamente em uma queda de quase tudo; passando pela saúde física e emocional, chegando aos resultados profissionais e pessoais. 

O fracasso do todo começa nas derrotas diárias de cada um.

Outra disrupção  que é necessária e geralmente desprezamos é a da quebra de relacionamento com quem nos faz mal. Pessoas que carregam aquela nuvem chuvosa na cabeça e com suas trovoadas e tempestades tem o péssimo dom de nos colocar pra baixo. Às vezes com a fachada de amigo são danosos ao nosso emocional. Atingindo o bolso também. Claro que a tolerância o amor ao próximo e outros requisitos básicos que mantém as amizades não estão incluídos aqui. Falo de não-amigos, pessoas que estão ali só por causa delas mesmas. Romper é preciso!


Por fim, mais uma  disrupção importante. Aquela que nos faz ficar apegados às crenças e preconceitos, impedindo-nos de ver com transparência o que está dentro e fora de nós mesmos. Quebrar essas muros internos, podar uns galhos secos e se abrir para algo novo, melhor e mais repleto de vida, pode ser algo extraordinário. Desde que o façamos com entendimento e clareza. Desde que comecemos a romper sem medo.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Isso é coisa da sua cabeça


Em algumas conversas a frase acima aparece. Geralmente em tom de censura. Querem nos dizer que aquilo que pensamos não tem sentido, não vale a pena, deve ser deletado; simplesmente porque é coisa da nossa cabeça. Quem já não foi paralisado por uma voz familiar dando essa sentença?
Mas será que o  “coisa da sua cabeça” não é o caminho certo a ser seguido? Talvez aparentemente a ideia soe um pouco original demais, ousada, meio sem pé e sem cabeça. Não significa dizer que tenha que ser descartada. Algumas das mais brilhantes criações teriam morrido se seus autores fossem congelados pela acusação de ter algo dentro de suas cabeças.

Sim, claro que precisamos entender o mundo ao redor, suas convenções e o modo como as coisas funcionam. Princípios éticos, normas, verdades e possibilidades de cada segmento e contexto. Mas mesmo assim não podemos pura e simplesmente nos deixar levar pela socialização e padronização de ideias, conceitos, dogmas e paradigmas.
Talvez o que esteja na sua cabeça seja realmente transformador. Poderá trazer avanços, cura, libertação, alento, felicidade...

Por um momento me imaginei uma criança cheia de sugestões para o fechado e sinistro mundo dos adultos, onde os sonhos não tem vez. Essa criança criativa não deveria ter estagnado. Aliás, luto para que ela esteja viva e cheia de energia dentro de mim. Não posso acreditar e aceitar que sendo coisa da minha cabeça fique restrita e vegetativa.

Te convido a pensar sobre você nos dois mundos: naquele que está louco para expor os pensamentos e tentar, tentar, tentar até acertar, e no outro, o que simplesmente rechaça as doses de originalidade e bloqueia qualquer sinal de ambiente criativo e inovador, a partir das cabeças que o cercam.

Cuidado, isso pode ser coisa só da sua cabeça!


quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Sede de vingança

Num mundo com fome como o nosso, existe também um cenário de sede. Vários tipos de sede. Aquela mais conhecida, por conta da falta de água em várias partes de um planeta desigual e uma  outra, tão perigosa quanto: a sede de vingança. Andamos tão atravessados de medo e abarrotados de violência que quando menos percebemos já estamos com as armas prontas para aniquilar. Não necessariamente no sentido físico, embora às vezes a gente odeie por quase um segundo, como diz Herbert Vianna, e nesse microtempo acabemos com vontade de socar alguém mesmo.

Só que os rompantes, na  maioria das vezes contidos por quem ainda consegue ser do Bem, vão se acumulando. Se não dermos um jeito de deletar os pequenos ódios de cada dia, uma hora eles se transformam em nosso Stranger Things. Nessa hora da raiva pode ser que surjam palavras e atos com um desejo brutal de saciar a sede perigosa de vingança. Só que muitas vezes, quando pensamos em matar, morremos e sofremos mais interiormente.

É preciso aprender a observar como nosso sistema operacional funciona. Até que ponto somos capazes de suportar e buscar ajuda para aprender a desenvolver uma maior resiliência.

Não estou falando de engolir todos os sapos, aguentar calado a injustiça, nada fazer por nada fazer.
Estou sugerindo que não desçamos tanto ao vale assim. Não sejamos beligerantes e cheios de rancor o tempo todo. Que consigamos compreender que aquela dose venenosa de vingança pode ter um efeito curto e temporário e mais tarde só nos fazer mal.

O pensamento aqui é de que lembremos mais as vezes em que também fomos perdoados. Ou consigamos recordar situações e gestos que merecem gratidão. Muitas vezes protagonizadas por aquele alguém que agora pode estar  nos causando dor.
Se for possível matar essa sede dolorosa com goles de água saudável e um repensar com calma sobre tudo e todos, façamos assim.

Saúde!                                                                
                                                        
                                                                      Benedicto Domingues Júnior/APG Sênior Amana Key